Adriana Fileto (Economista e Coordenadora do Comitê Técnico de Educação Financeira)
O endividamento dos idosos apresenta dados preocupantes, no Brasil. A mais recente pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), de agosto de 2019, estima um total de 4,3 milhões de idosos com o nome registrado em serviços de proteção ao crédito, o que equivale a 27% da população nesta faixa de idade. No balanço final de cada ano, até 2014, observa-se que o número de devedores entre os idosos cresceu mais que o dobro da média, em todos os anos. Em relação à participação dos credores dos consumidores idosos, entre 64 e 94 anos, são os Bancos que lideram, com quase metade das dívidas (47,26%).
Dentre os fatores que mais contribuem para o endividamento dos idosos, destacam-se a vulnerabilidade e o elevado comprometimento da renda com empréstimos. No que se refere vulnerabilidade, muitos idosos apresentam dificuldades físicas (visão e audição) e de cognição mesmo. Os contratos dos serviços financeiros são elaborados com letras pequenas e apresentam termos técnicos complexos. Os idosos muitas vezes têm dificuldade de ouvir e se sentem envergonhados de perguntar o que não entenderam bem. Eles precisam de maior tempo para compreender as informações financeiras e na maioria das vezes tendem a aceitar opiniões de terceiros sem entenderem bem do assunto tratado. Eles têm uma característica comportamental do tipo “Maria vai com as outras” que segue o lhe é imposto, sem questionar. O crédito muitas vezes é “empurrado” para o idoso, ou seja, a concessão irresponsável do crédito acaba levando o idoso a contrair empréstimos, como o empréstimo consignado, sem saber ao certo o impacto do mesmo em seu orçamento. Se os brasileiros no geral já têm muita dificuldade com matemática, na faixa etária acima 60 anos, o problema se agrava. Segundo pesquisa da PISA (Programme for International Student Assessment), o Brasil ocupa o 66º lugar no ranking mundial de matemática e 59º lugar em compreensão textual. A Pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF/2016) revelou que as pessoas acima de 50 anos têm ainda mais dificuldade de cognição, pois apenas 7% dessas pessoas são capazes de interpretar textos e resolver problemas que exigem maior planejamento como cálculos de porcentagem, por exemplo.
O elevado comprometimento da renda dos idosos com empréstimos também agrava o endividamento dos mesmos. E porque os idosos se endividam? Por vários motivos. Um deles é que pensões a aposentadorias constituem em valores insuficientes para suprir as necessidades básicas dos idosos. A inflação do idoso é maior que a da população em geral. Em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br) ficou em 3,51% enquanto que a inflação dos idosos atingiu 3,78%. Os altos gastos dos idosos com alimentação especial, remédios e planos de saúde explicam a elevada inflação. Outro motivo para o endividamento dos idosos é que segundo um levantamento da LCA Consultores, o número de domicílios em que os benefícios dos idosos respondem por mais de 75% da renda cresceu 12% entre 2016 e o ano seguinte, em grande parte por causa do desemprego e do aumento da informalidade. No intuito de sustentarem os filhos e netos, muitos idosos contraem empréstimos o que reduz ainda mais a renda disponível.
Diante da exposição deste problema do endividamento dos idosos, pensa-se: o que fazer para solucionar a questão? Vejo que a solução passa por quatro frentes principais: educação financeira do idoso e de toda a população para que saiba como usar bem os recursos; atuação vigilante dos órgãos governamentais e não governamentais (ONGs) de proteção aos consumidores para coibir os abusos financeiros contra os idosos e a concessão irresponsável do crédito; e aumento dos valores das pensões e aposentadorias para os mais pobres e o aumento no nível de emprego dos familiares dos idosos. Uma vez que o aumento dos valores das pensões e aposentadorias e do nível de emprego são mais difíceis de acontecer, restam a educação financeira e atuação dos órgãos de defesa do consumidor. A proteção a pessoa idoso é fundamental e deve ser praticada com afinco. A população do nosso país está envelhecendo e nossos idosos merecem todo cuidado, carinho e respeito.
O premiado documentário Covardia Capital revela os abusos da concessão irresponsável do crédito e as consequências geradas para as famílias de idosos no Brasil. Vale a pena conferir e refletir sobre o assunto.
Adquira o livro da economista Adriana Fileto e saiba mais sobre esse tema: “Cuide do seu bolso e do planeta – um guia para decisões financeiras sustentáveis” (Editora Miguilim).
Disponível em: https://editoramiguilim.com/pro